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"À Margem da Vida" Voluntariado em Coimbra Somos duas alunas do 12ºC, a Ana Sofia Ventura e a Daniela Silva do grupo de Área de Projeto “À Margem da Vida”, que através deste pequeno texto pretendemos testemunhar uma experiência diferente e muito gratificante que tivemos oportunidade de viver. No passado dia 20 de Fevereiro fomos a Coimbra realizar uma das actividades do nosso Projeto, contactar directamente com os sem-abrigo e com instituições que lhes prestam auxílio. O grupo é constituído por quatro alunas, mas as instituições que contactámos só permitem pequenos grupos no trabalho de rua, para não interferir com a rotina destas pessoas e não é possível fotografar os sem-abrigo, apenas os voluntários da instituição, essa foi a condição obrigatória para podermos participar neste Projeto. Então o nosso grupo irá realizar duas acções de rua com duas pessoas em cada. Neste dia fomos nós, acompanhadas da professora Ana Isidoro, com a colaboração da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, que gentilmente nos disponibilizou o transporte e o Sr. José Manuel que nos acompanhou a Coimbra. Através da C.A.S.A (Casa de Apoio ao sem-abrigo), tivemos a oportunidade de ajudar os voluntários da instituição a servir uma refeição quente (jantar) entre as 21:30 e as 22:00, na baixa da cidade, junto à Loja do Cidadão. A instituição presta apoio aos domingos e existe uma equipa fixa e diferente para cada domingo do mês, que se responsabiliza pela comida servida aos sem-abrigo/pobres da cidade. Serve-se sempre uma refeição quente, que consiste numa sopa, segundo prato, água, sobremesa e café. As refeições são da responsabilidade dos voluntários, por vezes existem doações de restaurantes ou outras empresas, mas quando estas não existem, são os próprios voluntários que assumem o pagamento dos alimentos e a elaboração da comida. Esta instituição que tem cerca de 3 anos (em Coimbra) não tem uma sede própria, pelo que depende da boa vontade dos seu voluntários para angariarem, receberem e guardarem géneros alimentares e utensílios para confeccionarem e servir a comida. Dependem também da solidariedade da população, em geral, e de instituições, em particular, para adquirirem os recursos necessários. No Domingo dia 20 de Fevereiro, a Equipa era constituída por cinco pessoas (a Sandra a Diana, o Sandro, o Américo e o Afonso, um jovem de 11 anos de idade que sempre que pode acompanha o pai). A refeição servida foi sopa de legumes, (doada por um restaurante), massada de bacalhau, (os ingredientes foram doados pelos escuteiros de Lorvão mas a preparação foi feita pelos voluntários), água, uma torta de chocolate e café. Beneficiaram desta refeição 13 pessoas, das quais apenas duas eram mulheres. As suas idades compreendiam-se entre os 30 anos e os 70 anos. Servimos toxicodependentes e mulheres que trabalham na rua, mas também pessoas comuns, desempregados e reformados, cujos salários não chegam ao fim do mês, por isso pedem ajuda. Não estávamos habituadas a contactar com pessoas com tantas dificuldades e algumas tão novas. Tínhamos uma ideia um pouco diferente, pensávamos que eram marginais, com mau aspecto, delinquentes, envelhecidos, mas encontrámos pessoas educadas, reservadas e pouco conversadoras, (por não se quererem expor, ou apenas por já terem recebido tantos “pontapés” na vida que têm medo de sofrer novamente). O que nos chamou a atenção em alguns deles foi o seu olhar vazio e perdido, noutros foi o serem pessoas comuns, daquelas por quem passaríamos durante o dia sem conseguir antever as suas necessidades. No fim da distribuição da refeição percorremos algumas ruas da baixa de Coimbra, onde normalmente dormem algumas destas pessoas. Vimos locais guardados por alguns deles para pernoitar (onde tinham os seus poucos pertences), mas ainda era cedo para os encontrarmos a descansar. Na Rua Ferreira Borges, quando estávamos para regressar, encontrámos um sem abrigo que se preparava para dormir junto às caixas do multibanco do Milénio. Achámos incrível, este senhor antes de se deitar estava a rezar, mostrava que apesar de tanto infortúnio na vida, ainda era movido pela fé. Sensibilizou-nos, mostrou-nos que todos nós deveríamos ser felizes com o que temos, porque há pessoas a viver em condições muito piores, que continuam a lutar e a acreditar num dia melhor. Este trabalho despertou-nos definitivamente para a importância do Voluntariado. Foi uma experiência marcante, que gostaríamos de repetir incluídas num desses grupos de pessoas anónimas que passam um pouco da sua vida dedicando-a aos outros. Ana Ventura e Daniela Silva
Entrevista com a equipa do Centro de Apoio aos Sem-Abrigo de Coimbra (C.A.S.A.) 13 de Março de 2011
Comecei por ir à Câmara Municipal, mas não precisavam de voluntários. Depois, foi através de um jovem que fazia voluntariado na ADAV que cheguei ao Projeto CASA. Entrei em contacto com a Joana (coordenadora), ela convidou-nos a fazer uma equipa e começámos a trabalhar com eles. “À Margem da Vida” - Aqui, hoje, apareceram poucas pessoas, normalmente, costumam aparecer mais? Equipa CASA: Sim, normalmente vêm mais pessoas. “À Margem da Vida” – Qual o grupo etário que mais frequentemente procura ajuda? Equipa CASA: Estas que vieram aqui hoje, entre os 30 e os 50 mas já apareceu gente mais jovem, pensámos até que seriam universitários em dificuldade. “À Margem da Vida” – Normalmente aparecem pessoas sozinhas ou também aparecem famílias? Equipa CASA: Não aparecem famílias. Por vezes vêm duas pessoas juntas mas na maioria das vezes vêm sozinhos. “À Margem da Vida” - Há interacção entre voluntários e as pessoas que aqui aparecem? Equipa CASA: Nós não devemos interagir, mas nós gostamos. Não é habitual fazer-se tanta como hoje, mas havia menos gente. A situação costuma se um pouco mais formal, nós de um lado e eles do outro. Mas nós gostamos de falar com eles e ouvi-los. “À margem da Vida” – Podem dar-nos exemplos de situações com as quais já se depararam? Equipa CASA: Já encontrámos a vergonha, por exemplo. Há uns dias apareceu um casal. O rapaz ficou de parte e a rapariga veio buscar comida e disse: “esta é para ele que ainda há pouco tempo estava bem e hoje está mal e passa fome, mas tem vergonha e quem tem vergonha passa mal”. E veio ela buscar a comida porque ele não foi capaz de se aproximar. Também, tivemos o caso daquele senhor invisual que aqui apareceu hoje. Dormia na rua e agora tem um quarto onde paga 100 euros por mês. Grupo de Área Projeto, 12ºC, “À Margem da Vida” – Márcia Dias e Raquel Cardoso
Elementos do Grupo com a equipa |